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O primeiro impacto veio na conta de luz. Neste mês, uma taxa extra será cobrada nas faturas de todos os consumidores do país, por determinação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), exatamente por causa do baixo nível dos reservatórios.
Mas, além disso, o país pode enfrentar alguns “apagões” pontuais, na análise de Mauricio Tolmasquim, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que conversou com o Blog Amigo do Dinheiro.
Especialista em energia e ex-presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Tolmasquim resumiu as dificuldades de abastecimento em basicamente 2 pontos:
Aumento do preço da energia no bolso do consumidor; e
Chance de apagões por causa da sobrecarga no sistema.
É importante observar que o risco de apagões não quer dizer necessariamente que os apagões realmente ocorrerão. O professor da UFRJ frisou que se trata de uma “chance”, e não de uma “certeza”.
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A boa notícia é que, segundo Tolmasquim, não deve ser necessário racionar energia. Isso porque o sistema brasileiro teve uma expansão de sua capacidade de produção nos últimos anos.
“A gente está numa situação diferente de 2001”, afirmou ele. Naquele ano, uma seca forte nos reservatórios de hidrelétricas obrigou o país a adotar medidas para diminuir o consumo de energia.
Segundo ele, houve uma “expansão muito grande” da capacidade de produção de energia no país. No período de 2010 a 2020, de acordo com o especialista, o sistema ganhou, em média, 6,4 mil megawatts de capacidade, “o que é muito”, afirmou.
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O especialista ainda afirma que houve uma diversificação das fontes de energia no país.
“Em 2001, 83% da geração era hidrelétrica. Agora, as hidrelétricas correspondem a 62%. Você tem mais térmica, eólica... Isso diminui a dependência [de hidrelétricas]”, disse ele.
Tolmasquim mencionou que o Nordeste, por exemplo, está entrando no período de produção de energia eólica. A região poderá transmitir essa energia para outros locais.
Em 2001, havia um cenário em que a capacidade de geração de energia não tinha acompanhado o aumento do consumo da sociedade. De lá para cá, houve ainda uma expansão das linhas de transmissão.
“Em 2001, sobrava energia e não tinha como transmitir. Tanto que o Sul não entrou em racionamento. Nos últimos 20 anos, ampliou-se essa capacidade de intercâmbio”, afirmou.
Veja abaixo as principais diferenças entre 2001, quando houve dificuldades no abastecimento de energia, e 2021, segundo Tolmasquim:
Expansão das linhas de transmissão, o que melhora o intercâmbio entre as diferentes regiões do país;
Aumento da capacidade de produção de energia;
Mais fontes de produção de energia, com menos dependência de hidrelétricas (consequentemente, reduziu eventuais problemas com a seca).
De acordo com Tolmasquim, a sobrecarga no uso das linhas de transmissão pode ocasionar blecautes, sobretudo em horários de pico, quando as pessoas chegam em casa, usam elevadores, ligam eletrodomésticos e demais aparelhos eletrônicos.
De acordo com Tolmasquim, deve haver algum incentivo ou trabalho educacional para evitar os horários de pico. Porém, o especialista afirmou que o “maior impacto será econômico”.
Ele explicou que houve determinação para usar todas as termelétricas disponíveis para não deixar faltar energia. E que algumas dessas térmicas cobram muito caro pela eletricidade gerada.
Além disso, para diminuir o impacto econômico da pandemia, que reduziu a renda de milhares de famílias, a Aneel manteve a bandeira verde durante quase todo o ano de 2020.
No sistema de bandeiras tarifárias da agência, quando está na verde, não há cobrança de taxa extra na conta de luz.
A consequência está sendo sentida agora. Os aumentos necessários para manter o sistema operando vão elevar as tarifas e, assim, vão pesar no bolso do consumidor.
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O especialista destacou que o país passa também por uma retomada do consumo, que deve ser somada à diminuição dos reservatórios das hidrelétricas. São 2 fatores que contribuem para os problemas de abastecimento energético.
Tolmasquim afirmou que o consumo cresceu quase 14% em maio. O consumo no ano passado despencou, sobretudo no setor comercial, por causa das medidas de isolamento social, do incentivo ao trabalho remoto e até do fechamento de empresas.
Agora, com uma retomada econômica em andamento, o consumo de energia da indústria em maio aumentou 25%, segundo ele. Também cresceu o consumo residencial, mas em torno de 8%.
“As pessoas estavam trabalhando em casa, então não caiu tanto. Já na indústria o crescimento foi grande porque tinha caído muito”, disse.
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