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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, teve queda de 0,36% em agosto, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (9). Trata-se do menor índice para um mês de agosto desde 1998, ou seja, em 24 anos. Com isso, o país registrou deflação pelo segundo mês seguido. O instituto diz que a queda foi influenciada principalmente pela retração nos preços dos combustíveis.

Assim como em julho, a deflação veio principalmente da queda no grupo dos transportes (-3,37%), que contribuiu com -0,72 ponto percentual (p.p.) no índice do mês. O destaque vem mais uma vez da queda no preço dos combustíveis (-10,82%).

Conforme o IBGE, em agosto, os preços dos quatro combustíveis pesquisados caíram: gás veicular (-2,12%), óleo diesel (-3,76%), etanol (-8,67%) e gasolina (-11,64%) - nesse último caso, o impacto negativo foi o mais intenso (-0,67 ponto percentual) entre os 377 subitens do IPCA.

O IBGE diz que o preço da gasolina nas refinarias foi reduzido em R$ 0,18 por litro em 16 de agosto.

O QUE EXPLICA A DEFLAÇÃO

Em nota, o economista e gerente do IPCA, Pedro Kislanov, diz que alguns fatores explicam a queda menor em relação a julho. “Um deles é a retração menos intensa da energia elétrica (-1,27%), que havia sido de 5,78% no mês anterior, em consequência da redução das alíquotas de ICMS. Também houve aceleração de alguns grupos, como saúde e cuidados pessoais (1,31%) e vestuário (1,69%), e a queda menos forte do grupo de transportes em agosto. No mês anterior, os preços da gasolina, que é o item de maior peso no grupo, tinham caído 15,48% e, em agosto, a retração foi menor (-11,64%)”, pontua.

DEFLAÇÃO DE AGOSTO NÃO ANIMA O MERCADO

Ainda que o mês passado tenha registrado deflação, a queda foi menos intensa do que a registrada em julho (-0,68%), quando a taxa foi a menor desde o início da série histórica da pesquisa, em janeiro de 1980. Os dados são vistos por economistas como positivos, mas o índice não alivia o mercado. Isso porque, em 12 meses, enquanto os combustíveis acumulam queda de 7,11%, o que diminui custos no setor de transportes, os alimentos têm alta de 13,43% – bem acima da inflação do período, de 8,73%.

Entre os itens que mais subiram nos últimos meses estão a cebola, passagens aéreas, leite, óleo e café. 

Veja a variação da inflação em cada grupo, em relação aos últimos 12 meses, segundo dados do IPCA:

  • Alimentação e bebidas: 13,43%
  • Despesas pessoais: 7,87%
  • Vestuário: 17,44%
  • Saúde e cuidados pessoais: 8,8%
  • Artigos de residência: 12,67%
  • Comunicação: 2,26%
  • Educação: 7,08%
  • Habitação: 3,83%
  • Transportes: 7,62%

 

É importante dizer que a variação de um grupo pode ser maior que o outro, mas isso não significa que o impacto de um seja maior que o outro na inflação. A conta é ponderada. Cada grupo tem um peso diferente.

O QUE É IPCA E POR QUE É IMPORTANTE

O IPCA é um dos índices de preços calculados mensalmente pelo IBGE para medir a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços.

O IPCA é divulgado mensalmente junto com o INPC, o  Índice Nacional de Preços ao Consumidor. Os resultados de ambos mostram se os preços aumentaram ou diminuíram de um mês para outro.  

Enquanto o INPC acompanha a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos, o IPCA engloba uma parcela maior da população, avaliando o custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos.

O IPCA é usado pelo governo federal como índice oficial de inflação do Brasil. Ele serve de referência para a meta de inflação e para as alterações na taxa de juros básica do país, a Selic.

A variação do IPCA ajuda a saber se você consegue comprar os mesmos itens com seu salário. O IBGE facilita as contas. Com a calculadora de IPCA, você pode calcular o aumento dos preços dos produtos e serviços que desejar ou estimar quanto seria o seu salário reajustado pelo índice. 

Desde 1980, o índice é produzido e divulgado pelo IBGE. Todos os meses, o instituto faz um levantamento de cerca de 430 mil preços, em 13 áreas urbanas do Brasil.

Os preços são coletados por técnicos especializados em 30 mil estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços públicos. Desde 2020, o IBGE também passou a contar com robôs virtuais para coleta de preços em páginas na internet.

O período de pesquisa de preços, em geral, vai do dia 1º ao dia 30 do mês de referência, com pequenas variações que são divulgadas previamente pelo instituto

Todos esses preços levantados são comparados aos valores coletados no mês anterior. Com esses dados, o IBGE calcula o índice, que reflete a variação nos itens consumidos pela população.  

O levantamento é realizado apenas nas regiões metropolitanas de Belém (PA), Fortaleza (CE), Recife (PE), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), além do Distrito Federal (DF) e dos municípios de Goiânia (GO), Campo Grande (MS), Rio Branco (AC), São Luís (MA) e Aracaju (SE).

QUAIS ITENS COMPÕEM O ÍNDICE 

Os grupos de produtos e serviços que compõem o IPCA são:

  • Alimentação e bebidas;
  • Habitação;
  • Artigos de residência; 
  • Vestuário;
  • Transportes; 
  • Saúde e cuidados pessoais;
  • Despesas pessoais;
  • Educação; 
  • Comunicação.

A cesta de produtos e serviços que são avaliados nas coletas de preços do IPCA é definida pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE. É ela que indica o que a população consome e o quanto da renda familiar é gasta em cada item.  

Esse, inclusive, é mais um indicativo da importância do IPCA. Afinal, ele considera não apenas a variação do preço de cada item, mas também o impacto no orçamento das famílias brasileiras.

De tempos em tempos, a cesta de produtos e serviços que são avaliados para compor o IPCA muda para acompanhar os hábitos de consumo da população brasileira.

A atualização mais recente foi referente aos anos 2017 e 2018, que passou a incluir itens de consumo que ganharam relevância nos últimos anos, como transportes por aplicativo e serviços de streaming.

Outros produtos, como aparelhos de DVD e assinaturas de jornais, perderam espaço na vida das famílias e foram retirados da cesta. Ao todo, são considerados 377 produtos e serviços.

A POF 2017-2018 revelou que 72,2% das despesas de consumo das famílias brasileiras são representadas pelo conjunto de itens de alimentação, habitação e transporte.

Veja este vídeo do canal do Banco PAN, no YouTube, que explica esse índice e como ele afeta sua vida:

PESOS PARA O CÁLCULO

Para calcular o IPCA, além de verificar a variação dos preços, o IBGE usa um sistema de pesos, que leva em conta qual o impacto de cada grupo nos custos totais das famílias.  

Esses pesos também são baseados na POF, que indica não só quais produtos e serviços são consumidos pelas famílias, como qual parte da renda é usada para cada um deles.

Além disso, cada região pesquisada tem um peso diferente na composição do índice. Mais populosa, a região metropolitana de São Paulo é a que tem mais influência: 32,28% do IPCA é composto pela variação dos preços dessa área. Na outra ponta está Rio Branco: a capital acreana colabora com 0,71% do indicador.